Tarcísio e Derrite fazem de São Paulo o estado com a menor taxa de mortes violentas do país? Uma análise crítica dos dados.
- Robert Murph
- 7 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
A afirmação de que São Paulo possui a menor taxa de mortes violentas do país sob a gestão de Tarcísio de Freitas e Guilherme Derrite é um tema polêmico, gerando debates acalorados e interpretações divergentes. Embora alguns veículos de comunicação, como o Jornal da Cidade Online, celebrem a redução significativa da taxa de homicídios dolosos, outros apontam um aumento preocupante na letalidade policial e na violência contra a população negra.
Este artigo busca analisar criticamente as informações disponíveis, apresentando diferentes perspectivas e fontes para uma compreensão mais completa da situação da segurança pública em São Paulo.

A redução dos homicídios dolosos:
De fato, dados do 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam uma queda de 10,4% nos homicídios dolosos em São Paulo em 2023, resultando em uma taxa de 7,8 mortes violentas por 100 mil habitantes. Esse número, se confirmado, representaria uma conquista significativa, especialmente considerando a complexidade da segurança pública em um estado com a dimensão populacional e econômica de São Paulo, e a presença de grandes facções criminosas como o PCC. A redução seria atribuída pelas autoridades à implementação de políticas de segurança pública da gestão Tarcísio de Freitas e Guilherme Derrite.

Porém, a narrativa não é tão simples:
Apesar da queda nos homicídios dolosos, vários outros indicadores levantam sérias preocupações:
Aumento da letalidade policial: Diversas fontes, incluindo o G1, a Folha de S.Paulo e a Ponte Jornalismo, reportam um aumento significativo no número de mortes causadas por policiais militares em São Paulo durante a gestão atual. Relatos apontam para um crescimento de 71% no primeiro semestre de 2024 e até 138% em um ano, dependendo da fonte e do período considerado. Esse aumento suscita questionamentos sobre as práticas policiais e a necessidade de maior investigação e transparência nas ocorrências.
Desproporcionalidade racial na letalidade policial: Estudos e reportagens da Ponte Jornalismo demonstram um aumento alarmante de mortes de pessoas negras por agentes de segurança. Números apontam para um crescimento de 84% em apenas cinco meses, indicando um padrão preocupante de violência racial. Esse dado contrasta fortemente com a narrativa da redução da violência em geral, destacando a necessidade de uma análise mais profunda que considere as desigualdades sociais e raciais presentes na sociedade paulista.
Aumento de suicídios entre policiais militares: Relatórios, como o da Ponte Jornalismo, indicam um aumento recorde no número de suicídios entre PMs de São Paulo, superando o número de homicídios de policiais. Esse dado levanta questões sobre o impacto psicológico do trabalho policial e a necessidade de políticas de saúde mental para os agentes de segurança.
Crítica à Operação Escudo: A Operação Escudo, realizada na Baixada Santista, foi criticada por sua violência excessiva, sendo comparada a eventos como o massacre do Carandiru. A operação, apesar de apresentar resultados pontuais no combate ao crime, gerou controvérsias e demonstra a complexidade das estratégias de segurança pública.
A importância da análise crítica dos dados:
A análise da segurança pública em São Paulo requer uma abordagem multifacetada, que considere não apenas a redução dos homicídios dolosos, mas também a letalidade policial, a violência racial, os suicídios entre policiais e o impacto de operações policiais controversas como a Operação Escudo. A simples apresentação de uma taxa de homicídios sem considerar esses outros aspectos relevantes pode levar a conclusões superficiais e enganosas.
A falta de transparência:
A falta de transparência em relação aos dados sobre letalidade policial e as investigações das ocorrências dificulta a avaliação imparcial da situação. A necessidade de acesso público a informações detalhadas sobre as circunstâncias de cada morte por intervenção policial é fundamental para a construção de um debate público informado e para a responsabilização dos agentes de segurança.
Considerações finais:
A redução da taxa de homicídios dolosos em São Paulo é um dado que merece ser considerado, mas não deve ser interpretado isoladamente. O aumento da letalidade policial, a violência racial e o aumento de suicídios entre PMs são indicadores preocupantes que exigem uma análise crítica e aprofundada. A transparência dos dados, a investigação rigorosa das ocorrências e a adoção de políticas públicas que promovam a segurança de toda a população, sem distinção racial ou social, são imprescindíveis para a construção de um estado mais seguro e justo para todos. A celebração da redução de homicídios dolosos sem considerar o contexto completo da violência em São Paulo pode ser, no mínimo, uma simplificação perigosa. É necessário um debate público mais amplo e informado, baseado em dados confiáveis e transparentes, para avaliar adequadamente o impacto das políticas de segurança pública implementadas no estado.
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